Apesar de nossa copa não ter sido exatamente a melhor copa sob o ponto de vista competitivo (não é preciso relembrar…), considerando o aprendizado que ela trouxe quanto ao desenvolvimento de um produto, foi, na minha opinião, bastante enriquecedor.
Trabalho prestando consultoria nesta área há quase vinte anos, e o know-how acumulado durante este período nos gabarita a encarar desafios dentro de algumas empresas.
No caso, no ano anterior ao evento, muitos projetos (ainda em fase de desenvolvimento) foram criados para atender às demandas exigidas pelo comitê organizador. Projetos feitos a lá “macarrão instantâneo”, pressão nos fornecedores para obter um protótipo funcional em tempo recorde, que, pasmem, já tinha sido vendido (sem testar), envio dos mesmos para certificação, alteração no design original para adequação a um novo tipo de material exigido, tudo isso já às vésperas do chute inicial.
Citando a questão do material, foi exigido que o plástico das cadeiras, no caso Polipropileno (PP), tivesse proteção anti-UV e antichama. Até aí nada demais, já que iriam ficar expostos e poderiam realmente sofrer com a ação do tempo. O porém é que foi exigido o antichama V0, o que deixava o PP muito seco e quebradiço. Imagine que você estivesse fazendo pão, e chegasse no ponto ideal da massa. Só que por um capricho da organização, ele o obrigasse a acrescentar mais 30% de farinha, já deu pra se ter uma ideia, não?
Não seria um grande problema se as cadeiras fossem todas injetadas, nestas realmente não foram necessários ajustes significativos no molde já existente.
O problema era nas cadeiras formadas pelo processo de sopro. Estas tiveram que sofrer adaptações grandes para que pudesse formar adequadamente, já que o estiramento era grande. Além disso, o material era mais caro, mais maleável (o que fragilizou a cadeira, já que a resistência diminuiu), riscava com facilidade (foi preciso dar atenção especial ao transporte). Os custos para adaptação do ferramental também foram estratosféricos.
Por falar em transporte, ficou claro que o sistema logístico e estrutural do Brasil ainda precisa melhorar em vários aspectos, em especial nas regiões mais afastadas do pólo centro-sul do país. Enviar 45 mil cadeiras para a Arena da Amazônia, via barco, ou na Arena Pernambuco, e chegar lá e não ter como comprar um parafuso na esquina, tendo que para isto enviar um pacote deste via aérea, pagando uma fortuna, é algo que nos faz ver que a diferença entre um país desenvolvido e um sem a devida preocupação na infraestrutura está além dos 7 a 1.
Em resumo, foram vários meses de dribles, jogadas, bolas na trave, mas, voalá, deu tudo certo, apesar de todos os percalços, e a copa, sob o ponto de vista do produto entregue, no final das contas, foi um sucesso.